O Preconceito

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O ensaio em anexo versa um dos temas que é abordado nas sessões de formação em mediação e que acompanha o mediador ao longo da sua vida profissional: o preconceito. Vou desenvolvê-lo, definindo alguns conceitos do campo da psicologia como estereótipo, protótipo, preconceito, identidade social, entre outros, e do campo da cultura como tradição, modernidade e pós-modernidade. Posteriormente tentarei compreender em que medida a psicologia social é condicionada pela experiência e quais as ferramentas ao nosso dispor para podermos compreender melhor e fazer diminuir os fenómenos sociais do preconceito e da discriminação, melhorando desta forma o desempenho da mediação.

palavras-chave: estereótipo, protótipo, preconceito, identidade social, preconceito e discriminação

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Procuro nesta resposta dar algum feedback sobre uma parte do ensaio partilhado, partilhando a minha interpretação sobre o mesmo.

Por exemplo, peixinhos da horta – uma iguaria portuguesa,
que consiste em fritar feijão-verde, depois de envolto em tempura - são um protótipo, dado que se assemelham a peixe frito, nomeadamente, carapaus ou joaquinzinhos.

Discordo que os peixinhos da horta sejam considerados um protótipo, segundo a definição que utilizas.

Antes de analisar esta questão e numa primeira reação, e estando eu habituado ao conceito de protótipos num contexto de “produtos”, em que os vejo como uma representação sensorial do que poderá ser um produto acabado, discordo desta frase. Uma definição alinhada com esta é a apresentada em https://en.wikipedia.org/wiki/Prototype.
Observo assim o preconceito que tinha sobre a palavra protótipo que me “toldou” a interpretação do contexto associado por alguns momentos. Partilho como exemplo prático.

Depois dessa primeira reação, e visitando a fonte que referes ao mencionar a palavra protótipo (Cf. George Lakoff e Mark Johnsen (2003) Metaphors we live by. London: The University of Chicago Press, percebi que há ali também muito para ler, não percebendo no entanto a citação - o que motivou a mesma?

De resto, fui entretanto encontrar a teoria dos protótipos, explicada em https://en.wikipedia.org/wiki/Prototype_theory e percebi um pouco melhor, ligando-me ao que dizes citando:

«Prototypes are typical, highly representative examples of a concept that correspond to our mental image or best example of the concept.» (FELDMAN 2014:249).

Quanto ao exemplo compreendo melhor ao do melro que é protótipo de pássaro e que o pinguim nem tanto, referido em:

de https://en.wikipedia.org/wiki/Prototype_theory, a 2018-07-29
Thus instead of a definition based model—e.g. a bird may be defined as elements with the features [+feathers], [+beak] and [+ability to fly]—prototype theory would consider a category like bird as consisting of different elements which have unequal status and, therefore, a robin is considered to be more prototypical of a bird than, say, a penguin (which, for instance) can’t fly).

Diria assim, após esta leitura que os “peixinhos da horta” funcionam mais como metáfora do que propriamente como protótipo.

Em que medida é que vês os “peixinhos da horta” como protótipos ?

Que práticas/exercícios bem-definidos no tempo e espaço poderemos desenvolver a nível individual e coletivo para nos libertarmos do preconceito mais rapidamente?

Olá, Diogo!
Obrigado por teres lido e devolvido algumas questões.
Sugiro que leias o capítulo 14, «Causation: Partly Emergent and Partly Metaphorical», do livro Methafors we live by, edição de 1980, mencionado na bibliografia do meu ensaio. Se tivesse em versão digital, enviava por aqui. Se arranjares a obra vais-te divertir bastante com a leitura. :slight_smile:
Bom, é verdade que «peixinhos da horta» podem ser considerados uma metáfora, mas «carro», «casa», «pessoa», «flor» e todos os outros signos, quer tenham ou não referente, são também metáforas. O que a atividade humana faz há muito é categorizar, restringir o universo e classificar a experiência através dos signos. Por isso, remetendo para Lakoff e Johnson, consideramos que «peixinhos da horta» é um protótipo.
Dou-te outro exemplo: uma folha de papel, dobrada de certa forma, pode ser um avião. Tem algumas das características de um avião real: asas, cauda, nariz, voa (plana). É um protótipo, tal como os «peixinhos da horta».
Nem sempre a wikipedia abrange tudo ou é precisa, razão pela qual não a uso como fonte em trabalhos académicos.
Abraço e boas férias!

Entendes ser protótipo pelo nome “peixinho da horta” ou pelo conjunto total de características ?

Coloquei o link para o texto que referes em cima, quando referi a fonte, que é de uma edição de 2003 (estará diferente?) (coloco aqui também: http://shu.bg/tadmin/upload/storage/161.pdf).

Na página 71, 55 do pdf, refere-se:

We are using the word “prototypical” in the sense Rosch uses it in her theory of human categorization (1977). Her experiments indicate that people categorize objects, not in set-theoretical terms, but in terms of prototypes and family resemblances. For example, small flying singing birds, like sparrows, robins, etc., are prototypical birds.
Chickens, ostriches, and penguins are birds but are not central members of the category they are nonprototypical birds.

Percebo que uma folha de papel se possa transformar em avião - de papel - e como tal ser um protótipo de um avião real.
Já o “peixinho da horta” enquadro mais na categoria dos pinguins e das galinhas, que sendo representações de algo real, segundo a definição acima não parecem ser protótipos.

Podes referenciar algum pedaço de texto específico que me permita perceber melhor essa afirmação ou então explicar de outra forma o que entendes por protótipo?

De resto questiono-me de que forma é que esta conversa sobre os peixinhos pode servir a este tema do preconceito no contexto da mediação. Talvez possamos utilizar a mesma para analisar a nossa própria conversa e de que forma os pré-conceitos usados implicitamente ao lermos os textos enriquecem ou bloqueiam a comunicação. Que te parece @rupial ?

Caro Diogo, releva-me a demora, mas não estou de férias e tive de regressar ao livro para melhor orientação.
Direto ao assunto: se continuares a leitura da fonte que citaste, entre as pp. ((122)) e ((126)) terás a resposta à tua dúvida. Poderia fazer um resumo, mas ganharás com a leitura. Envio-te também duas fotografias sobre os protótipos.

Quanto à tua pergunta sobre a utilidade desta conversa? Bom, creio que ela é útil na medida em que nos confrontamos com a polissemia das palavras - nem todas a têm (como estas quatro últimas).
Nos processos de mediação, não escutar ativamente pode levar os participantes a não esclarecerem, a não aprofundarem, a compreensão do que é dito - o destinador é também destinatário da mensagem.
É o Conhecimento - todo o que provém da experiência, incluindo o académico - que combate o preconceito.

carapaus%20fritos_ensaio_mascara

peixinhos%20da%20horta_ensaio_mascara

Abraço e boas leituras!

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